terça-feira, 18 de fevereiro de 2020



         Equipe Profissional do Sport Club do Recife. Estádio da Ilha do Retiro-  Formação da esquerda para direita, em pé: Nado- Miltão- Milton- Sá- Ademir e Zequinha. Agachados: Gildo Bala- Tuta- Marcone- Giraldo e Ivanildo. Recife, Pernambuco, 1971. Nesta equipe, o goleiro Miltão tinha vindo do sudeste, não sei exatamente de qual clube; Sá era do Botafogo do Rio; Gildo Bala tinha vindo do Palmeiras de São Paulo, e poucos anos atrás tinha sido convocado para jogos da Seleção Brasileira; Giraldo e Ivanildo provenientes do futebol alagoano. Nado, Milton, Ademir, Tuta e Marcone éramos prata da casa, equipes juvenis, provenientes das categorias de base do Sport Club do Recife. No meu caso entrei no Sport com 13 anos no início de 1966, desde o Infanto- Juvenil. Assinei contrato como Profissional em maio de 1971, Passe Preso ao Sport, na época conhecido como Contrato de Gaveta, e  com 18 anos de idade.Vale ressaltar que até este ano de 1971, a legislação,  da CBD- Confederação Brasileira de Desportos, hoje CBF- Confederação Brasileira de Futebol- o limite de idade da categoria Juvenil, era até 20 anos. Os Clubes de Futebol questionaram esta decisão da CBD, alegando que faziam grandes investimentos nos atletas das categorias de base- Infanto -juvenil; Juvenil e Aspirantes e tinham que dispensar após os campeonatos desta categoria, atletas com idade de 18 anos, pois ainda não estavam emocional e fisicamente preparados para participar de jogos com atletas profissionais já formados. Sua personalidade e vida pessoal ainda não estavam perfeitamente definidas. E era prematuro lançá-los em competições profissionais que poderiam, pela falta de maturidade, destruir o potencial de que eram possuidores.Todo o trabalho de longos anos estaria perdido. Pois profissionalizar um atleta aos 18 anos, tinha que certeza do seu potencial. Profissionalizando-os aos 18 anos, os clubes teriam duas opções: mantê-los treinando com o plantel por mais dois ou três anos, ou emprestá-los para outros clubes, para que adquirissem a experiência necessária para competições de maior envergadura. Porém ao emprestá-los perderiam, com o tempo aquela "mística" ou "apego" ou "amor ", ou algo assim, ao clube que o formou e o preparou para sua vida como atleta de futebol. Este era o pensamento da época. Convivi, vi e senti, desde o Infanto- Juvenil no Sport, que este era o sentimento que nos era repassado como atletas do Sport Club do Recife, o Rubro-negro da Ilha do Retiro. A mensagem dita para os que lá eram formados era:" Pelo Sport tudo".  Éramos atletas do Sport, e nosso comportamento em qualquer lugar deveria ser sempre de disciplina e respeito a todos, para honrar o nome do clube. 
     Vou falar um pouco sobre uma pessoa, entre tantas outras pessoas e Instituições, que tiveram grande influência na minha formação. O pedido da minha contratação foi feito pelo Técnico do Sport à época, Carlos José Castilho, ou simplesmente Castilho como era nacional e internacionalmente conhecido. Ele foi goleiro do Fluminense do Rio por vários anos, conquistando mais de 30 títulos e também foi goleiro, das Seleções Brasileiras de 1950 no Brasil, 1954 na Suíça, 1958 na Suécia e 1962 no Chile. Portanto, participou de quatro "Copas do Mundo" e foi bi-campeão mundial de Futebol. Desnecessário acrescentar algo mais sobre um atleta deste nível. Mas, fora isto, detêm ele o recorde, até hoje, de 697 partidas pelo Fluminense e desse total passou 257 partidas sem levar gol. Era conhecido como "O milagreiro". Chegou ao ponto de pedir para amputar um dedo da mão- depois de contundí-lo pela quinta vez- para não parar de jogar, por dois meses, pelo Fluminense. Morreu em 1987 e deixou uma legião de torcedores e admiradores no Fluminense. Um homem e atleta ímpar.
         Eu tinha e ainda hoje tenho por ele, enorme apreço e admiração pelo que me ensinou no futebol e principalmente para a vida, e a grande atenção que sempre me teve. "Seu Castilho", como respeitosamente, eu e os demais atletas o chamávamos, deu-me as primeiras lições e oportunidades de participar das atividades com os atletas profissionais do Sport. Castilho, ainda hoje, é um dos ex-atletas mais reverenciados do Fluminense do Rio de Janeiro. Foi feito um filme sobre sua trajetória no Clube. Era homem de personalidade muito forte, tal qual sua estatura de 1,81m. Lembro que nos treinos do Sport, lá no Estádio da Ilha do Retiro, no Recife-PE, mesmo 8 anos depois de ter estado na Seleção Brasileira bi-campeã no Chile-1962, ia para o gol, mandava os atacantes chutarem e ensinava aos goleiros como defender. Uma figura inesquecível e marcante na minha formação, como jovem atleta que era, e como pessoa humana. Um mestre que tive e que muito aprendi em disciplina e dedicação aos objetivos que se deseja alcançar na vida. Conviveu ele, com os maiores ícones do futebol mundial, a exemplo de Pelé, Puskas, Di Stefano, Zagalo, Zizinho, Nilton Santos, Garrincha, Zito, Didi e tantas outras celebridades, mágicos do futebol das décadas de 50 e 60, nos grandes Estádios do Brasil e do mundo. Agradeço muito a oportunidade de ter convivido diariamente com o grande Ex-atleta e o excelente Técnico de futebol Carlos Castilho. Se vivo estivesse estaria hoje com 92 anos de idade, pois nasceu em 27 de novembro de 1927. Rogo a Deus pela sua alma. 
        Em agosto do mesmo ano 1971, com 18 anos, vim por empréstimo de três meses, para disputar o Campeonato do Nordeste pelo Treze Futebol Clube. Ao final deste período, o Treze solicitou ao Sport, a renovação por mais seis meses, para disputar o Campeonato Paraibano de 1972. Em janeiro de 1972, prestei exames vestibulares para Engenharia Civil na Escola Politécnica da Universidade Federal da Paraíba, em Campina Grande-Paraíba.  Fui aprovado e passei a fazer as duas atividades, jogar futebol profissional e estudar Engenharia Civil. Neste momento vi a dificuldade de conciliar estas duas atividades a contento. Ambas com alto nível de cobrança. Fazer as duas coisas bem feitas tornou-se para mim um sacrifício. Viagens constantes, ambiente para estudo, concentração para jogos, ausência as aulas, prazos de entrega de trabalhos escolares, mudanças de horários e locais para treinar e estudar, etc. Tudo isto começou a me preocupar muito. " To be or not to be, that is the question". Ser ou não ser, eis a questão. A famosa frase do grande poeta, filósofo e dramaturgo inglês William Shakespeare, definia tudo. Como fazer, eis a questão! Apesar de jovem, com 19 anos, passei a repensar intensamente sobre minha vida presente, mas também futura. 

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